23/03/2011
Uma ferramenta capaz de equalizar as desigualdades existentes entre os cidadãos comuns e os grandes veículos de comunicação no que diz respeito à liberdade de expressão e poder de disseminar (e formar) opiniões. Em síntese, para os participantes do debate público promovido pela Câmara dos Vereadores e pelo Comitê para Democratização da Informática (CDI) de Campinas nesta terça-feira, 22 de março, esta é a grande contribuição da rede mundial de computadores para as sociedades modernas.
Com o tema O Poder da Internet, o evento abriu a programação da Semana da Inclusão Digital, promovida pelo CDI. O debate foi requerido pelo vereador Josias Lech e mediado por André Bordignon, coordenador do CTI.
Ao abrir os debates, Bourdignon ressaltou que, mais recentemente, a Internet tem promovido mudanças nas relações entre consumidores e empresas. De acordo com ele, ao possibilitar a disseminação de queixas a cerca de problemas com produtos e serviços, a internet amplifica a voz dos consumidores e acaba afetando a imagem de grandes corporações. Diante disso, elas acabam, mesmo que a contragosto, tomando providências para sanar as irregularidades. O coordenador do CDI também lembrou a importância que a Internet teve na organização dos movimentos populares que estão contestando diversos governos autoritários no mundo árabe.
Uso consciente
Em seguida, o coordenador de Políticas Públicas para a Juventude da Prefeitura Municipal de Campinas, César Pereira, apresentou as ações de dois programas desenvolvidos pela Administração Municipal voltados à inclusão de jovens e adolescentes, o Jovem.com e a Rede Jovem. O primeiro é composto por uma rede de telecentros espalhados por diversos pontos de Campinas e o segundo é um Portal que reúne todas as atividades desenvolvidas para a população jovem no Município. Ele enfatizou a importância de se garantir o acesso à Internet para que a juventude possa participar de programas de formação.
Representando o Net Comunidade, um programa desenvolvido pela empresa de comunicação a cabo Net e a Prefeitura de Campinas, Frank Sousa alertou para o fato de que a Internet tem sido vista pelos jovens apenas como mais um canal de consumo, o que acaba restringindo a sua possibilidade de uso nos campos educacionais e culturais. Ele lembrou que Campinas é considerada uma espécie de Vale do Silício brasileiro, em referência à instalação de diversas instituições de pesquisa e indústrias na área de Tecnologia da Informação na região, mas que, de uma maneira geral, a população da cidade não percebe esta situação, pois não se beneficia do progresso gerado por estas instituições.
A mesma linha de raciocínio foi seguida por TC Silva, da Casa de Cultura Tainã e da Rede Mocambos, esta última desenvolvedora de uma ação que visa conectar comunidades quilombolas de todo o Brasil à Internet. Na opinião de Silva, a aproximação da juventude com as novas tecnologias traz benefícios e gera preocupações. “Precisamos refletir sobre que tipo de uso damos a elas”, disse, salientando que a utilização da Internet precisa ter uma finalidade social. Ele lembrou que, em 2001, a Informática de Municípios Associados S/A (IMA) foi uma das primeiras empresas a encampar e a difundir a filosofia do software livre e que a aproximação entre ela e a Casa de Cultura Tainã foi fundamental para que esta percebesse as potencialidades de utilização deste tipo de ferramenta. “Entramos em contato com os princípios de generosidade intelectual, de compartilhamento e de uma busca racional para o uso dos recursos de TI que caracterizam o universo do software livre e isso foi fundamental para o desenvolvimento de nosso trabalho”, lembrou.
Ameaças à liberdade
A última exposição ficou a cargo do presidente da IMA, Pedro Jaime Ziller, que fez um breve resgaste histórico da origem da Internet e afirmou ter presenciado toda essa evolução. Para ele, a Internet é uma espécia de ágora da atualidade, a praça em que os gregos da antiguidade debatiam as questões que consideravam importantes e que deu origem à democracia. “É por isso que existem tentativas de controlar o fluxo de informação pela Internet, pois informação é poder”, afirmou, numa tentativa de alertar para o fato de que este caráter democrático da rede corre risco, diante de algumas tentativas de impôr uma legislação restritiva ao livre trânsito de informações pelo mundo virtual. “O argumento de que crimes são praticados através da internet não é válido para justificar este controle. Se assim fosse, teríamos que retirar toda as canetas esferográficas do mercado, pois muitas fraudes são cometidas com elas”, comparou em tom de brincadeira.
ZIller também elencou uma série de ações governamentais que objetivam facilitar a disseminação da informação, mas que, por vezes, não atingem o seu objetivo por falta de cobrança da sociedade, tais como os programas Computador para Todos, Gesac, Luz para Todos, Banda Larga nas Escolas, Plano Nacional de banda Larga e um canal voltado para a Educação em emissoras de TV por assinatura via satélite, que inclui 2 mil kits com tevês e equipamentos receptores doados pelas operadoras.
Ao final do encontro, Helena Withe, também coordenadora do CDI, propôs a criação de um Fórum Municipal para dar prosseguimento aos debates e desenvolver ações que contribuam para a ampliação e maior eficácia dos programas de inclusão digital no município,o que foi endossado pelos painelistas.